sexta-feira, 30 de maio de 2014

De - vagar



                                                    
O poeta tolo enfadou de verso
Não queria mais ler
o inverso
do seu ser
Cansou de ver nas palavras
Sua vida que não levava
Seus remédios e todo o prazer
Que não usava
Cansou de querer no papel
de amar na tinta
enrigeceu de passar as páginas
e não chegar na esquina
Ficou tolo, insano
desdenhava do verso como usava o pranto
E desastrado borrava a folha
mas ainda a queria
E quanto mais via a rima
disperso
mais escrevia e sorria
O poeta tolo mergulhou no mar de estrofes
e no caminho desorientado da poesia
Ele lutava contra o ser que era
e desistia.
E bastava ver um poeta
que despedaçava desabrochando suas pétalas
Bastando se olhar no espelho
e via que nada mais fazia sentido em seu corpo
se não, evocar toda essa
incompreensão lógica e
cheia de sentido e tudo que se possa sentir...
Via que o confuso lhe bastava
e a confusão das palavras
lhe era constante
Como uma enxurrada de palavras
que chega a todo instante
tropeçando umas nas outras
como se dissessem que já deveriam ter saído dali a muito tempo.
Dali de onde os olhos não podem chegar
nem mesmo o coração pode sentir:
da alma.
O poeta que leu, talvez se emocionou.
Se viu no espelho
como alguém que percebe que pra ser poeta é preciso nascer.
Ser poeta é ter as mesmas palavras mas conseguir dizer
o que a alma quer mostrar.
Sinto que sou poeta
Sinto que penso no décimo verso quando estou no primeiro
Sinto que sorrio quando penso em poesia
mesmo tendo me cansado o dia inteiro.
Sinto que é verdadeiro
e por isso sou poeta...
Não porque escrevo ou mantenho a porta aberta.
...Mas porque sinto.
Sinto vontade de chorar
porque sinto que, talvez... depois de mim
outro poeta, não tolo, vai ouvir a minha alma
através de meus versos e vai dizer:
Ele renasceu aí.
Afinal, o que não é o poeta senão a contradição?
O que não é o poeta se não o errar?
O confundir?
e deixar por isso mesmo
O que não é a poesia se não um manuscrito
disso mesmo
de si mesmo
A poesia, põe, sim, ah!
Evocar!
Ele é poeta
evoca..
E de repente percebe que tudo se encaixa
...E chora.
Preciso terminar meus versos antes que eles me terminem.

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